quinta-feira, outubro 22

Mulheres que marcaram época



No ano de 1888, a Princesa Isabel vivia um dilema: assinar a Lei Áurea, determinando a liberdade dos escravos que trabalhavam nas lavouras brasileiras e ao mesmo tempo desferindo um golpe mortal na monarquia – já que os ricos senhores de escravos, descontentes, passariam para as fileiras republicanas –, ou fechar os olhos e deixar tudo como estava?
Todo mundo sabe a resposta, e foi por isso que a Princesa Isabel passou a ser chamada de A Redentora.
Esta mulher nasceu em 29 de julho de 1846 (quando o Brasil ainda era regido pela monarquia), no Rio de Janeiro. Segunda filha de Dom Pedro II, na época o governante do Brasil, ela tinha o extenso nome (costume típico da época) de Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança.
A Princesa Isabel recebeu esmerada educação, inclusive musical. Falava francês, alemão e inglês, mas era simples, tendo como principal passatempo plantar e colher flores. Ainda jovem, com 18 anos, ela casou com o Conde D’Eu, que virou marechal do Exército Brasileiro.
Dom Pedro II sofria de diabetes e problemas do fígado, e em diversas oportunidades precisou de atendimento médico na Europa. Nestas oportunidades, a Princesa Isabel assumia o trono. Ela governou o Brasil em três vezes, de 1871 a 1872, 1876 a 1877 e 1887 a 1888.
Foi neste último período que a princesa mostrou um lado mais de mulher do que de regente, abraçando a causa abolicionista e se declarando "madrinha dos escravos".
Ela sabia que assinar a Lei Áurea era determinar o fim da monarquia e ainda trazer sérios problemas à Coroa, já que estava apoiada nos fazendeiros e senhores de engenho; colocando-se contra os interesses deles, eles também abandonaram a Coroa e passaram a apoiar a República.
De qualquer jeito ela assinou, com uma caneta de ouro, a Lei Áurea, dando liberdade aos escravos em 13 de maio de 1888, em Petrópolis. Pouco mais de um ano depois, em 1889, instituída a República, a família real foi banida para a Europa.
Somente em 1920 foi revogada a lei que bania a Família Imperial do Brasil, mas era tarde para receber a libertadora dos escravos de volta. Enferma, ela faleceu em 14 de novembro de 1921. Teve três filhos com o Conde D’Eu, sendo que dois deles faleceram antes que ela.
A estampa da Princesa Isabel ficou conhecida na nota de 200 cruzeiros, nos anos 80.





Uma das histórias mais apaixonantes que existem é a de Joana D’Arc. E, como toda lenda, também esta é cercada por uma aura de mistério. Até hoje, não se sabe ao certo se a heroína francesa (no original Jeanne D’Arc) era uma santa, uma louca ou uma feiticeira.Joana nasceu em 1412 numa pequena aldeia francesa, e foi queimada viva apenas dezenove anos depois, em 1431. O que não impediu que entrasse para a história.Na época em que Joana nasceu, França e Inglaterra se degladiavam, desde 1337, numa disputa por territórios. O confronto durou até 1453 e ficou conhecido por Guerra dos Cem Anos. Foi ali que Joana encontrou seu destino e transformou-se em heroína francesa.A lenda registra que a humilde camponesa, com 13 anos, começou a ter visões de santos que lhe apareciam pedindo que ajudasse a libertar a França da opressão inglesa.
Em 1429, os ingleses estavam prestes a dominar Orleans; foi quando as "vozes" pediram que Joana ajudasse o monarca francês Carlos VII – que, devido a uma luta interna pelo poder, ainda não tinha sido coroado rei.
Na época corria entre o povo a profecia de que uma virgem iria libertar a França. Foi assim que Joana conseguiu respaldo do monarca e o comando de uma pequena escolta. Estreando na arte da guerra, ela se despiu da feminilidade, vestindo roupas masculinas e lutando como um feroz soldado.
Ela libertou Orleans dos ingleses, fez com que Carlos VII fosse coroado rei e nunca desistiu de lutar contra a Inglaterra, o que fez com que fosse aprisionada pelo exército inimigo em 1430.
Submetida ao julgamento da Igreja em território inglês, a francesa foi acusada de ter usado roupas masculinas, de ter feito profecias e de blasfêmia ao dizer que tinha visões divinas. Condenada como herege, foi queimada viva em praça pública em 29 de maio de 1431, com apenas 19 anos.
O processo de canonização de Joana D’Arc começou em 1869, quando os franceses já tinham recuperado praticamente todo seu território nacional, mas ela só passou a ser considerada santa em 1920.
A imagem de Joana D’Arc, como heroína, bruxa ou santa, foi usada muitas vezes desde então, na literatura, na poesia, na música (onde virou o famoso rock Eu Não Matei Joana D’Arc, da banda baiana Camisa de Vênus), e no cinema, onde inspirando várias produções, sendo a mais recente de 1999, dirigida pelo francês Luc Besson.




Quando se fala em exemplos de amor ao próximo e compaixão, é difícil não lembrar de Madre Teresa de Calcutá, falecida em 1997, aos 87 anos.
Afinal, que exemplo seria melhor do que uma freira que se envolveu em uma Cruzada solitária e indigna, com um amor fora do comum pela humanidade, levando uma vida notável alimentando famintos, assistindo enfermos e, principalmente, dando ouvidos aos que nunca eram escutados?
Madre Teresa nasceu em 27 de agosto de 1910, na Macedônia, filha de humildes comerciantes. Seu nome de batismo era Agnes Gonxha Bojaxhiu.
Educada em ambiente profundamente religioso, Agnes logo percebeu sua verdadeira vocação e já aos 18 anos entrou na Ordem de Loreto, em Dublin, na Irlanda; dois anos depois, em 1931, fez seus primeiro votos, adotando o nome de Teresa.
Sua primeira ação em nome dos desamparados foi em 1948, quando ela deixou a Ordem de Loreto para trabalhar com os pobres e leprosos nas favelas de Calcutá, na Índia. O trabalho voluntário fez com que recebesse cidadania indiana, incluindo o "de Calcutá" ao nome dado pela Ordem.
Em 1950 Teresa virou Madre de sua própria Ordem, ao fundar as Missionárias da Caridade, estabelecida em Calcutá. Estas se espalharam e deram orifgem ainda à Associação Internacional dos Co-operários de Madre Teresa, que usava leigos em atividades assistenciais.
O trabalho deu a Madre Teresa o Prêmio Nobel da Paz em 10 de dezembro de 1979. Aí seria fácil se acomodar e viver dos louros da façanha, apenas coordenando a Ordem que criou. Mas Madre Teresa continuou na ativa, envolvendo-se também na campanha de ajuda às vítimas da AIDS a partir de 1987, até sua morte.




A cena é antológica: uma loira escultural caminha e uma assanhada saída de ar lhe levanta a saia. Ingênua para os padrões atuais mas polêmica para a década de 50, esta passagem do filme O Pecado Mora ao Lado é uma das que ajudou a tornar a modelo e atriz americana Marilyn Monroe um sex symbol de todas as épocas, ainda mais com a morte prematura aos 36 anos de idade eternizando sua beleza.
Apesar de ter atuado inclusive em um filme chamado Os Homens Preferem as Loiras, Marilyn na verdade nasceu com cabelos castanhos e o nome Norma Jean Barker, em 1942.
Sua mãe tinha problemas mentais e poucas condições financeiras, e o pai jamais foi conhecido. Por isso, ela passou a infância trocando de famílias. Aos 15 anos, já tinha morado com onze famílias diferentes até se casar, no ano seguinte, com James Dougherty, vizinho de seus então pais adotivos. Era o primeiro de três casamentos.
Norma trabalhou um bom tempo em uma fábrica até ser descoberta por um fotógrafo e seguir carreira de modelo. Mas seu desejo era ser estrela de cinema.

Em uma agência, recomendaram à garota que se quisesse entrar em Hollywood precisaria voltar a ser solteira e trocar a cor das madeixas de castanho para loiro platinado. Foi o que ela fez, e depois de diversas fotos em diferentes revistas chamou a atenção em Hollywood. Foi aí que ela trocou de nome. Marilyn foi sugestão do empresário, e Monroe uma homenagem à mãe, Gladys Monroe. No cinema ela fez 30 filmes, incluindo clássicos como Quanto Mais Quente Melhor.
Em 1954, Marilyn casou com um famoso jogador de beisebol, Joe DiMaggio. Aí aura de sensualidade em torno da deusa loira incomodou o ciumento jogador. A cena da saia levantando foi a gota d’água para o divórcio nove meses depois.
O terceiro casamento foi em 1956, com o dramaturgo Arthur Miller. O casamento durou, mas terminou durante as filmagens de Os Desajustados, em 1961 – o próprio Miller tinha adaptado sua peça especialmente para ela. Começava uma fase ruim para Marilyn Monroe, com dependência de álcool e soníferos.
Em 1962, ano em que ganhou o prêmio de Estrela Mais Popular do Mundo, outra cena que entrou para a história: ela cantou Parabéns a Você ao presidente americano John Kennedy.
O envolvimento com ele e seu irmão, Robert Kennedy, ambos casados, até hoje é cercado de mistério, e há quem diga que foi o que causou sua morte misteriosa – assassinato, para muitos.
Em 4 de agosto de 1962, ela foi encontrada morta na cama, de bruços, com o telefone fora do gancho nas mãos. Na época, uma dose letal do calmante nembutal foi considerada a causa da morte.

A mulher na Idade Média


Nesta época havia grandes figuras femininas e de grande importância para a sociedade. Uma das primeiras considerações sobre a mulher da idade media diz respeito a real situação da vida em família, afinal elas eram vistas como inferiores em relação aos seus maridos e também pela sociedade, no entanto uma das grandes virtudes daquela época para os dias atuais a uma diferença no que diz respeito a valorização, respeito, admiração da mulher por parte da Igreja e de seus companheiros.
No dias de hoje a figura da mulher está um pouco depreciada, pois é vista na maioria tida na maioria das vezes como objeto de prazer, acabou-se a toda aquela nostalgia como nos tempos do Romantismo onde era respeitada e muito admirada.
Outras considerações é a de que como conseqüência das reações da sociedade aos direitos femininos e masculinos, a mulher conquistou o seu espaço na sociedade medieval do seu jeito, ou seja, forte, doce, esposa, mãe.
Hoje com o passar do dos tempos a mulher tem direitos iguais aos dos homens, mesmo assim teve que imita-lo no sentido das profissões para conseguir sua independência. Assim, podemos dizer que aquela época não é muito diferente da atual, rainhas desempenhavam autoridade de governo na ausência do rei, ou ainda podemos constatar a existência de varias profissões de cabeleireiras, superioras de mosteiros.
Assim concluímos que a sociedade medieval era um modelo de estado ordenado, com regras que presenciam o poder, o respeito, a conquista sobre a vida daquelas pessoas desta que é fundamental para traçar um paralelo da sociedade medieval e a atual.

segunda-feira, outubro 12

Biografia - Jane Austen


Jane Austen (1775-1817) foi uma escritora inglesa, autora de seis romances (completos): A Abadia de Northanger, Razão e sentimento, Emma, Mansfield Park, Persuasão e Orgulho e preconceito, este último, o mais conhecido deles e, ao que tudo indica, um dos preferidos da autora que referiu-se a ele em uma carta como “querido filho”.
Jane Austen nasceu em16 de dezembro de 1775 em Steventon no condado de Hampshire, Inglaterra. Filha do reverendo George Austen e Cassandra Leigh (nome de solteira).
Jane e a irmã Cassandra estudaram pouco tempo fora de casa. Em 1783 foram para Oxford aos cuidados da senhora Cawley que poucos meses depois mudou-se para Southampton onde as meninas apanharam uma doença contagiosa e Jane, particularmente, ficou muito doente. Os pais as trouxeram de volta para Steventon e em 1784 novamente enviaram as duas irmãs, que sempre foram inseparáveis, para a Abbey School, perto de Reading. O internato era conduzindo pela senhora Latournelle que não era muito rígida em termos de ensino e no final do ano, as meninas voltaram para casa e não mais retornaram para escola alguma, ficando os estudos dali em diante por conta dos pais. Em casa aprenderam desenho, tocar piano, tarefas domésticas, e sobretudo leram muito. O reverendo Austen tinha uma boa biblioteca, com aproximadamente quinhentos livros, com clássicos como Shakespeare e muitos autores contemporâneos com os quais Jane familiarizou-se. Entre os eles: Henry Fielding, Richardson, Sir Walter Scott, o poeta George Crabber, Maria Edgeworth, Cecilia Frances Burney etc.
Os Austens eram, supõem-se pelo relatos e cartas, uma familia alegre e unida. Costumavam encenar peças em casa, algumas da pena da jovem Jane, que foram certamente um ensaio para os futuros livros. Esses primeiros textos e fragmentos são chamados de Juvenilia e surgiram entre os anos de 1787 a 1793.
Não há muitos registros sobre a vida dos Austen. Por vários motivos. A vida da familia Austen era, como tantas outras das pequenas cidades e vilarejos, pacata. Os transportes, pouco confortáveis e caros, ainda mais para uma família numerosa, reduziam os passeios para lugares mais afastados e as festas, bailes, jantares e jogos passavam-se na maioria das vezes nas vizinhanças. Há também a maneira reservada como as pessoas se comportavam naquela época, mesmo com os familiares. Mas certamente com todas as limitações, moças e rapazes divertiam-se e flertavam como fazem os jovens em qualquer época.
Todos os irmãos de Jane, com exceção de George, casaram-se. Cassandra, após a morte do noivo, Tom Fowle, em 1797, permaneceu solteira e Jane, seguramente flertou e teve pretendentes, pelo que se lê em suas cartas, mesmo sendo discretas. Há também um episódio em dezembro 1802, em que Jane teria aceitado a proposta de casamento de Harris Bigg-Wither, amigo da familia de longa data, mas mudou de idéia no dia seguinte e recusou o pedido de casamento. Ninguém sabe porque aceitou. Ninguém sabe porque recusou. Talvez soubéssemos mais se Cassandra não tivesse queimado grande parte da correspondência entre elas.
Em 1801, o reverendo Austen aposentou-se e mudou-se para Bath com a familia, o que não foi do agrado de Jane – ela desmaiou ao receber a notícia da mudança. Quando o pai faleceu em 1805, Jane, Cassandra e a senhora Austen passaram a receber ajuda dos irmãos e em 1806 mudaram-se para a casa do irmão Frank em Southampton. Em 1809 mudaram-se para uma casa em Chawton, propriedade do irmão Edward.
Os primeiros sintomas da doença de Jane, dores nas costas, cansaço e fraqueza surgiram em 1815. Eram crises esporádicas e os médicos não sabiam explicar pois na época o mal de Addison* não era conhecido. No final de 1816 a doença agravou-se ainda que intermitente e, a partir de março de 1817, Jane ficou cada vez mais fraca largando definitivamente o livro que estava escrevendo, Sanditon. Mesmo assim manteve correspondência, principalmente com os sobrinhos. Novos sintomas apareceram e o médico local não sabia mais o que fazer. Jane foi então aconselhada a consultar outro médico em Winchester – Doutor Lyford – que percebeu que não havia nada a fazer em tal caso e receitou apenas paliativos. Jane faleceu na manhã do dia 18 de julho de 1817, e foi enterrada na catedral de Winchester.

Orgulho e Preconceito

Publicado em 1813, Orgulho e Preconceito tem sido o romance mais popular de Jane Austen. A obra, retrata a vida pacata em uma sociedade rural daqueles dias; e conta sobre os iniciais desentendimentos e mais tarde mútua compreensão entre Elizabeth Bennet e a arrogante Darcy. O título Orgulho e Preconceito se refere à maneira em que Elizabeth e Darcy se viram pela primeira vez. A opinião brincalhona de Jane Austen sobre o próprio trabalho dela, em uma carta à sua irmã Cassandra logo após a publicação, foi: "No todo...Eu estou bem satisfeita ...O trabalho é leve e brilhante; e resplandecente; ele quer (precisa) de forma; ele quer ser alongado aqui e ali com um longo e sensato capítulo, se isso pudesse ser conseguido, se não, de solenes enganosos desvarios, sobre algo desconectado com a história: um ensaio de escrita, uma crítica sobre Walter Scott, ou a história de Buonaparté, ou algo que formasse um contraste paradoxal. Orgulho e Preconceito pertence ao gênero comédia-romântica e é o mais famoso romance de Jane Austen, e sua introdução é uma das mais famosas linhas da literatura Inglesa. É uma conhecida verdade universal, que um homem solteiro em posse de uma grande fortuna, deve estar querendo uma esposa.

Colcha de retalhos de Jane Austen


Jane Austen não era apenas a escritora maravilhosa que amamos mas também muito habilidosa com trabalhos manuais. Como exemplo a colcha de retalhos feita por volta de 1811, um trabalho conjunto com sua mãe e a irmã Cassandra que encontra-se atualmente Chawton House Museum. A colcha tem 64 diferentes desenhos impressos ou pintados em chita e foi toda costurada à mão. Tecidos, principalmente os estampados, eram caros na época e certamente foi um trabalho quase de colecionador como fica claro neste trecho de uma carta de Jane para Cassandra,

“have you remembered to collect pieces for the Patchwork? we are now at a standstill.”

“você se lembrou de recolher peças para o patchwork? agora nós estamos num impasse.”

Laços de família - Clarice Lispector


A escritora se coloca de frente para a realidade, portanto, ela faz do fato questionamentos de ficção ou levantamentos autobiográficos.
Laços de família foi um dos melhores livros escritos por Clarice Lispector, fala da prisão doméstica, de seu cotidiano, da sua vida em si.
A forma de vida não se repetindo de geração para geração submetendo-se as consciências e as vontades. A dissecação da classe média carioca resulta numa visão, onde cita uma situação de vida precária e familiar.
Todos os seus contos são narrados em terceira pessoa. É uma obra que reúne vários contos da autoria da escritora Clarice Lispector.
O romance Laços de família trata de uma jovem mulher portuguesa, como se pode ver pela sua linguagem, casada e mãe que se deixa apanhar, de tal forma, pelo tédio e pela rotina do dia a dia que já nem da cama quer sair, depois de um fracasso amoroso a protagonista tem um imenso desejo de odiar, mas não é bem sucedida até ao dia em que vê, à sua frente, um búfalo, algo que, de certa forma, simboliza a sexualidade masculina.

quinta-feira, outubro 8

Clarice por Clarice


Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade.

A descoberta do amor

“[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece que há em mim um lado infantil que não cresce jamais.
Até mais que treze anos, por exemplo, eu estava em atraso quanto ao que os americanos chamam de fatos da vida. Essa expressão se refere à relação profunda de amor entre um homem e uma mulher, da qual nascem os filhos. [...] Depois, com o decorrer de mais tempo, em vez de me sentir escandalizada pelo modo como uma mulher e um homem se unem, passei a achar esse modo de uma grande perfeição. E também de grande delicadeza. Já então eu me transformara numa mocinha alta, pensativa, rebelde, tudo misturado a bastante selvageria e muita timidez.
Antes de me reconciliar com o processo da vida, no entanto, sofri muito, o que poderia ter sido evitado se um adulto responsável se tivesse encarregado de me contar como era o amor. [...] Porque o mais surpreendente é que, mesmo depois de saber de tudo, o mistério continuou intacto. Embora eu saiba que de uma planta brota uma flor, continuo surpreendida com os caminhos secretos da natureza. E se continuo até hoje com pudor não é porque ache vergonhoso, é por pudor apenas feminino.
Pois juro que a vida é bonita.”